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A mulher cindida por Isabel Angelica (26/02/2015)


O Caminho de Mulher


A mulher está cindida. Uma divisão milenar baseada na premissa do patriarcado que a mulher ou é santa ou é selvagem. Só assim ela pode ser catalogada e ocupar um lugar numa sociedade que espera mundos e fundos da mulher e do suposto papel que ela deverá representar, ocupando essencialmente um lugar enquanto adorno ou de serviçal.


Claro que aqui me podem cair em cima e dizer que a mulher tem conquistado muito na sociedade actual pois o que ela é começa a ser cada vez mais equiparado e reconhecido como sendo "igual" ao homem. Mas ainda não perceberam que a mulher não é igual ao homem? São seres diferentes e está não é conversa de feminista ou separatista, mas sim um facto. Ponto.


Então onde é que a mulher se anda a trair a si mesma? Quando perpétua a luta inglória de achar que deve ter os mesmos direitos que o homem. É tão absurdo como lutar para que os homens tenham as mesmas aptidões naturais que a mulher. E isto também é um facto. Ponto.

Então qual o caminho que resta à mulher? Trabalhar a cisão dentro de si mesmas e perceber as feridas ancestrais que carrega há tantas gerações e milénios que a transportam numa divisão brutal e violenta entre as suas partes.


A mulher anda à procura de se realizar nos outros. Naturalmente é um ser capaz do serviço e nutrição abnegadas pois faz parte de si. Mas tudo isto foi transformado em servilismo - ao outro, à casa, aos filhos, à sociedade, aos companheiros, etc.


Transformada numa Gata Borralheira que de vez em quando é a Cinderela pois alguém decidiu olhar para ela na sua beleza ou bondade. Mas depois o encanto desvanece-se pois ela deixa de ser útil aos olhos de quem apenas quer tirar algo dela. O amor-próprio não lhe assiste e muito menos sabe o que é o poder pessoal. A sua existência é um mero reflexo de como é vista ou aceite pelos outros. Nunca em função de si mesma.


Há um vírus na vivência humana que é mais letal do que qualquer outro - a manipulação. O acto de manipular que no dicionário de significados português tem como sinónimos condicionar, influenciar, geralmente em proveito próprio, adulterar, falsificar.


Desde pequenas que somos manipuladas e que percebemos o poder de uma boa manipulação - se choramos, temos as atenções viradas para nós; se caímos, vem meio mundo cuidar do dói-dói; se falhamos, os pais são peritos em cobrar-nos; se não somos perfeitas, a sociedade condena-nos; se não somos boazinhas, há logo um qualquer deus que nos enviará para o inferno.


E passamos uma vida neste jogo... ou para quem acredite (como eu!), várias vidas. A manipulação emocional, sexual, alimentar, energética, financeira... Tudo na nossa vida se torna uma moeda de troca com um implícito "se fizeres isto, eu dou-te aquilo"... ou "se te digo estas coisas, é porque me preocupo"... ou ainda "se me amas, farás isto por mim"... E esta é, sem dúvida, a maior manipulação de todas! Aquela onde se alega o amor seja em que tipo for de relacionamentos, para que a outra parte nos faça a vontade sem termos que sair de zonas de conforto, descoberta e entendimento.


E aqui surgem as manipulações por dinheiro. Por amor. Por conforto. Por colo. Tudo se transforma em moeda de troca (como quem diz, manipulação) para que os afectos distorcidos e o amor doentio estejam garantidos e ninguém morra com aparente déficit de amor... nem de manipulação.


O que é apresentado como uma proposta de trabalho interior à mulher, na busca desta integração, não é de todo popular nem fácil. Requer muita responsabilidade e entrega incondicional para a resolução interior de TODAS as formas de patriarcado que funciona como um polvo cheio de tentáculos de manipulação. Mas não desisto. Por amor a mim e por amor às mulheres que trabalham a sua consciência.


O caminho da mulher que se ama incondicionalmente não é de todo fácil pois torna-se muito fácil espoletar gatilhos patriarcais interiores que estão tão disfarçados que às vezes até vestem as peles de Amor e Preocupação. "Porque te amo, digo-te isto", ouvimos tantas vezes quando normalmente essa afirmação vem velada de um pedido para o servilismo - seja ele que de forma for, sendo quero afecto e o sexo são os mais comuns.


É óbvio que os homens têm as suas próprias feridas. O patriarcado também lhes toca a eles e de forma bem profundas. Mas esse é outro caminho que caberá aos homens realizarem consigo mesmos. Aqui chega-se às mulheres. Aquelas que entendem que a vida lhes pede que oiçam o seu vazio no coração e útero.


- Isabel Angélica, 26.02.2015

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