Desde que me lembro, os gurus da Nova Era têm-nos dito para "ficar na luz". Dizem-nos para meditar, gerar e emanar positividade, alertando-nos que nós criamos a nossa própria realidade e que o pensamento negativo gera resultados negativos. Mas se já te viste a encolher perante toda essa Espiritualidade Correcta e te perguntaste o que havia de errado contigo por não a atingires, eu estou aqui para te dizer que não estás quebrado e que não precisas de conserto. Como Embaixadora da Escuridão, é meu dever cantar os louvores da indignação, revolta, tristeza e destruição. Eu estou aqui para defender o lado selvagem e o poder da natureza que não pede desculpa. Eu estou aqui para incitar a todos a deixar cair a vossa compostura como sacos de areia e a despertar para a verdadeira tempestade da vida. Enquanto o movimento da Nova Era tem despertado muitos para o poder da intenção criativa, tem somatizado simultaneamente as emoções negativas, interpretando-as à luz da nossa paleta social da aceitabilidade e isto leva-nos, a todos nós, à repressão. Primeiro que tudo, há que perguntar - e se essas emoções negativas não estão erradas, mas totalmente certas? E se o verdadeiro problema é a atitude equivocada de que à partida precisamos de conserto? Quando tentamos viver de acordo com imagens impossíveis de iluminação espiritual, como super-humanos sem ego, o lado negro da nossa natureza ganha poder. É como tentar manter uma bola debaixo de água - podemos ter sucesso por uns breves e fugazes momentos, mas acaba sempre por submergir. As emoções negativas não deixam de existir apenas porque as estamos a ignorar. Elas simplesmente encontram outras maneiras de se expressar. Às vezes atacamos alguém de forma inadequada, temos ataques incontroláveis de choro ou sentimo-nos prostrados e adormecidos. Mais comumente, caímos em depressão e podemo-nos tornar propensos a acidentes, doenças físicas e crises pessoais. A verdadeira responsabilidade criativa envolve mais do que visualização positiva e acção em relação aos nossos sonhos. Significa também destruir tudo o que não é mais relevante. A Destruição é o contraponto à Criação e, assim, como a definição do dia para a noite, o Verão que dá lugar ao Inverno, a vida dá lugar à morte, por cada coisa criada uma outra deverá ser destruída. Na tradição Hindu, a deusa Kali é venerada como os aspectos tanto da criação e destruição, do útero ao túmulo da Grande Mãe. Numa das suas quatro mãos, ela segura uma cabeça que acaba de decepar e enche uma taça de sangue. Ela muitas vezes empunha uma foice, cercada por um fogo devorador, adornada com ossos e dançando em cima de um corpo. Em oposição à sugestão flácida de que quando algo não está a funcionar é preciso "deixar ir", Kali mostra-nos o poder implacável atrás das "emoções negativas" que abrem caminho para uma nova vida. Ela é o limite que a Raiva deseja. Ela é a margem do rio da Mágoa levando-nos para novas terras. Ela é a liberdade que a Ansiedade busca. Ela é a sirene da mudança para o Tédio. Ela é a bem-aventurança que o Medo busca. Possuir a tua capacidade de destruição significa não só tomar um machado metafórico para cortar os estilos ultrapassados de sua estagnação presente, como também reescrever as tuas histórias de perda. Essas coisas que sentes que te foram levadas cedo demais, as coisas más que te fizeram e que magoaram e aquelas que sempre achaste que não tinhas direito… essas coisas são lugares de poder inexplorado. À medida que limpamos as coisas excelentes das nossas vidas que não nos servem mais, estamos a preparar o nosso espaço de possibilidade para bênçãos inimagináveis à espera de serem manifestadas. Assim como o fogo pode transformar alimentos na sua forma bruta em algo digerível, as nossas trevas são transformadoras radicais. Em vez de aplicarmos cosmética nas nossas personalidades, elas persuadem-nos a exagerar os nossos defeitos, escondidos na nossa estagnação, feridas e limitação. Se realmente queres evoluir, tudo o que tens a fazer é estar exactamente onde estás. Só então poderás ter na tua posse a tua própria tristeza, rigidez, arrependimento, frustração, e assim brilhares de amor voraz por ti mesmo(a). Tradução livre por Isabel Angélica
O texto original pode ser lido aqui - http://www.rebellesociety.com/2013/06/21/the-bright-side-of-owning-your-darkness/
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