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A Outra

Nós mulheres ainda estamos pagando nossas contas com o mundo patriarcal, pagando pelas que nos antecederam, e que se amalgamaram a esse sistema. Ainda somos as devedoras pelo crime da insubordinação cometido por nossa mãe Eva contra o Criador, pelos anseios que Sophia tinha por seu Amado, assim como ainda somos cativas da reação pelo medo e temor despertado por Lilith, a Bruxa Primordial, em nossos antepassados.

A quem Lilith ameaça? Às Instituições, ao casamento estabelecido, às regras, à submissão, ao sistema de valores advindos do patriarcado.


Fomos todas separadas e isoladas desde nossa mais tenra infância em boa ou má, feia ou bonita, desejável ou não desejável, casável ou titia, Lilith ou Eva, enquadrada ou bruxa, esposa ou a outra.

Nosso destino foi a dualidade e nos agarrando em uma das extremidades como em uma brincadeira de cabo de guerra, cada vez mais nos obstamos ao contato com o extremo oposto, nosso rival e amiga, uma parte de nós mesmas, agora encarada como nossa antagonista.

Tal qual Hera, a deusa-esposa do Olimpo grego, projetamos em uma outra tudo o que somos capazes de entender como o mal, e isentamos de culpa por seus erros, o masculino.

Uma vez mais ferindo, castrando, agredindo e amputando a nós mesmas, em proporções iguais, ou ainda maiores, do que o ambiente em volta e o sistema foram capazes de fazer por nós.

Carregamos o sistema de valores vigente em cada uma de nós, ele está em nós e atua por nosso intermédio.

Nos esquecemos do quanto necessitamos de nossa sombra, tão negligenciada, que se encontra lá na outra ponta na brincadeira de cabo de guerra.

Cada uma de nós, ao longo de nossa vida, precisa soltar a ponta do cabo, ir pouco a pouco enrolando a corda e ir se aproximando da aceitação plena de nossa sombra rejeitada, se almejamos nossa totalidade.


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