– O que parece é que partiram a Mãe-Terra, símbolo de uma coisa só, em dois… – disse Emanuel. – A morte foi separada da vida, como tu disseste, e a deusa, representada pela serpente, passou a ser a morte, tão temida.
(excerto do livro A Senhora de Ofiúsa de Gabriela Morais)
O ser humano dedicado ao patriarcado divide tudo em dois. Não estou a falar da dualidade (premissa da vida no Planeta Terra), mas sim do conceito completamente patriarcal do “dividir para reinar”…
A Humanidade está dividida no “antes de cristo” e no “depois de cristo”… “antes da Mãe” e “depois do patriarcado”… Uma divisão tal, que a própria energia indivisível da Pachamama, da Mulher e do Homem se dividem em dois, mas é no género feminino que a cisão é fulcral…
De tal forma que a mulher está dividida entre a santa e a prostituta… Mais ainda! Até a serpente é passível de ser dividida entre a boa e a má, como se de um produto perecível se tratasse (antes estava no prazo, depois fica azedo!)…
E aqui reside uma grande tramóia patriarcal que divide tudo o que tem conotação menos famosa em dois – a serpente está dividida em duas… Lilith parece que também se divide em duas… a Mulher está condenada a ser duas… Aonde querem ir então os seres humanos devotos da cristandade que tanto defendem a divisão de tudo em dois? Estou em crer que é para reinar… dividir para reinar…
Seria tudo bem mais simples se as pessoas se informassem, lessem… Se dedicassem a estudar os livros e pergaminhos antigos, do tempo AC, com mais de 3 mil anos de idade, para que assim entendessem que a vida vai muito para além dos tempos em que os judeus andaram às turras uns com os outros e decidiram avançar com as divisões totais…
Seria bom que todos vissem filmes como o Ágora para perceber que o DC é macabro, sórdido e manipulador. Dos últimos dois mil anos de história da raça humana podemos contar com inúmeras guerras em nome do Cristo, uma caça às bruxas em nome da luta contra do Diabo e guerras mundiais com um ciclo de mortes incontáveis.
Então eu prefiro ir lá para trás… honrar a minha ancestralidade e permitir que as minhas células tirem a venda da ilusão quanto aos símbolos e signos. Descarto o linguajar dos tementes a Deus com as transcendências que ignoram as feridas do ego e mil vezes chamo a Serpente, energia crua da Grande Mãe que me dá a honra de todos os dias me nutrir e alimentar em consciência, lucidez, questionamento e verdade.
Já dizia Timothy Leary – pensa por ti, questiona a autoridade… E assim o faço pois é uma grande frase… chego ao ponto de questionar a minha própria autoridade apenas para me permitir a desconstruir e construir mais una e menos dividida. Um trabalho que urjo às mulheres a fazerem pois o trabalho que nos é pedido não é para termos figurinhas no altar para adorarmos (seja a serpente ou as santidades ou mestrias), mas sim para nos virarmos para dentro e transcendermos a humanidade deturpada que se quer alinhada.
Aho!
– Isabel Maria Angélica, 26-06-2015
Imagem por Sara Rica Gonçalves, no Retiro do Lammas, Agosto de 2014, no Lago de Dornes
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