A 25 de Maio de 2013, perto de Dornes, abri o primeiro círculo de mulheres sob o nome de Ninho da Serpente.
A Serpente surgiu como a energia guardiã destes trabalhos por diversos motivos porque:
é uma das energias telúricas que está associada à Mãe Terra, sendo cultuada como manifestação de sabedoria em praticamente todas as culturas;
Portugal já foi denominado como Ophiúsa – terra dos adoradores da Serpente;
nos ensina e recorda da capacidade de mudarmos de pele à medida que crescemos dentro de nós mesmas;
e está reconhecida dentro de nós como a memória antiga da nossa mulher selvagem, intuitiva e sábia.
Quando iniciei os círculos de mulheres, comecei a falar da minha experiência, dos ensinamentos de cuidarmos da nossa ligação à Mãe Terra a partir da vivência de todos os nossos aspectos e elementos e da necessidade absoluta do resgate do nosso amor próprio e poder pessoal, não para sermos melhores que os homens ou exigirmos a igualdade dos direitos, mas sim para que pudéssemos encontrar na nossa memória celular e história de alma o lugar que nos compete numa humanidade que precisa de equilibrar as energias feminina e masculina. Essa será sempre uma das minhas linhas de trabalho pessoal, como professora e como guardiã de círculos de mulheres.
Ao longo destes 4 anos de existência, foram acolhidas centenas de mulheres e, nesta plataforma de trabalho circular, muitas delas encontraram os seus dons e curas pessoais. Assisti a verdadeiros milagres em mulheres que não conseguiam engravidar e conseguiram, graças ao trabalho de círculo e mergulho pessoal, encontrar espaço para receberem as sementes da vida nos seus úteros. Vi mulheres com heranças densas a encontraram o seu Eu de forma a manifestarem a sua essência de forma cada vez mais lúcida e empoderada. Foram acolhidas muitas mulheres perdidas nos seus medos e inseguranças que, nestes 4 anos, se auto-descobriram em amor e lucidez.
Um trabalho que tanto me ensinou e ainda ensina, pois a partir de mim toquei em todas elas e fui tocada de formas que nunca pensei na vida ser tocada por cada uma delas.
Parabéns Ninho da Serpente.
Nesta plataforma do Ninho da Serpente – Círculos de Mulheres pude desenvolver ainda mais os meus dons e curar feridas profundas, o que se deve à energia espiralada com que a Mãe Terra nos nutre e que descobrimos juntas como potenciar e expandir. E sou grata por cada momento.
Como a borboleta, vi tantas, mas tantas mulheres a despedirem-se dos seus casulos e a caminharem de cabeça erguida. Cada uma segue o seu caminho e acolho a gratidão dos corações e úteros que cuidam por todas as aprendizagens e curas. Acolho tudo o que passei pois permitiu-me encontrar dentro de mim a compreensão de que nem todas conseguem entender que os trabalhos e objectivos do Ninho da Serpente não foram e nem são os bodes expiatórios para as suas experiências e histórias pessoais.
Aprendi que, quando as mulheres se unem, grandes curas ocorrem e a níveis que as nossas mentes não abarcam, mas que os corpos e almas reconhecem.
Aprendi que, apesar de tanto conhecimento e trabalho, a matriz da competição, inveja e medo ainda tolda o discernimento das mulheres.
Aprendi que as mulheres unidas são mais fortes, mas que quando a separação é alimentada, a mulher consegue ser a principal inimiga de si mesma e das suas irmãs.
E acolho, agradecendo, todas essas aprendizagens que me permitem hoje, dia 25 de Maio de 2017, dar os Parabéns ao Ninho da Serpente pelos seus 4 anos de existência, mas também dizer-lhe Adeus com a certeza de que um ciclo às 4 direcções sagradas está completo.
Para que haja crescimento, é necessário deixar morrer e este consciente colectivo que é e foi o Ninho morre hoje, deixando as suas glórias, lições e apegos.
No primeiro ano do Ninho da Serpente, foi a alegria de um novo Fogo manifestado com a direcção Leste. Recordo a euforia, a alegria das mulheres se reunirem. A energia das meninas foi o mote e o florescimento das novas descobertas marcou esse primeiro ciclo. Muitas chegavam ao círculo na alegria de terem encontrado a sua Tribo.
No segundo ano vieram as descobertas das Águas do Sul. Surgiram novas dinâmicas e propostas de trabalho que levaram as mulheres a mergulhos mais internos, o que as levou a descobrirem novas dimensões de si mesmas. Umas foram amadas e acolhidas. Outras foram renegadas. Contudo, a Grande Mãe sempre feliz, pois as Suas filhas estavam a ouvir o seu chamado.
No terceiro ano, era a Terra, na direcção Oeste, a pedir-nos a maturidade e a responsabilidade por cada passo e escolha. Foi o ano em que mais viajei com o Ninho da Serpente a abrir trabalhos onde era chamada e a ser acolhida pelas guardiãs dos respectivos lugares. A maturidade e responsabilidade pedidas foram grandes testes pessoais e colectivos, mas, ao mesmo tempo, esta digressão permitiu chegar a tantas mulheres que aqui sentiram um oxigênio salutar para se nutrirem.
O quarto ano do Ninho da Serpente foi bafejado pelos ventos da direcção Norte, o Ar dos magos e ancestrais que pedem o compromisso sério e inequívoco. Para mim, foi um ano de muitos partos e mortes, algumas delas físicas. Os nascimentos e partidas esse que foram todos celebrados na Montanha, em Abril passado, quando iniciei a minha Busca de Visão com 4 dias e 4 noites em contacto com toda a caminhada pessoal e, acima de tudo, do Ninho da Serpente.
Guardo todo o Caminho do Ninho da Serpente como um tremendo laboratório que agora me deixa o legado de seguir cada vez mais fiel ao chamado que sinto desde os meus 16 anos de estar ao Serviço de uma força maior que é criadora e transformadora de toda a vida e ciclos na Terra, onde eu humanamente me insiro.
Agora, deixo ir esta minha criação e desapego-me de todas as suas sub-criações.
Honro cada aprendizagem, cada mulher, cada abraço e cada promessa.
Honro todos os momentos mas não me apego a nenhum, por saber que cada uma é responsável pelo que diz, pensa, emana e sente.
Honro este meu/nosso Ninho quente e nutridor, onde a vida e a morte andaram lado-a-lado, onde a Serpente nos apresentou a realidade do que carregamos dentro dos nossos corações e úteros tanto no seu esplendor de amor como na penosa dor.
Honro todas as professoras que sempre vi em cada mulher que se sentou comigo em círculo e foi tocada pela Serpente.
E deixo ir, com alguma tristeza, confesso, mas ela é natural no processo da criação e renovação. Deixo ir porque entendo que a energia desta criação teve o seu tempo, trouxe-me o que eu precisava como lições pessoais e de guardiã, mas não me é possível nutrir esta criação dada a história que já carrega.
Contudo, o caminho não pára. Parar é sinónimo de desistência perante o fluxo contínuo da vida. Nunca fui mulher de desistir, apesar dos embates, mal entendidos e dores, pois é a Grande Mãe que continua a sussurrar-me ao ouvido e a trazer-me a imagem de que sou uma Árvore que não pode desistir de o ser, pois a árvore será sempre uma árvore, cumprindo os seus ciclos e crescimento para dentro da Terra, alimentando o Fogo no seu tronco, a beber a Água que lhe traz a seiva vermelha de sangue e a tocar os Ar dos Céus nas suas folhas e troncos.
E no fundo, TODAS somos uma Árvore. Que saibamos então honrar o que isso nos pede como compromisso interno de manifestação das nossas almas. Sejamos cozinheiras ou médicas, advogadas ou varredoras de rua, a cada uma de nós foi-nos atribuída uma energia de árvore com coração e útero. Somos mulheres. Somos cíclicas.
Hoje, dia 25 de Maio de 2017, com a Lua Nova em Gémeos, deixo ir esta minha criação do Ninho da Serpente, o que não deixa de ser curioso, pois a minha Lua natal está em Gémeos, na casa 11, bem juntinha a Saturno. Explico o meu sentir – a minha Lua veio para o serviço, comunicação e ser canal de ligação dos mundos, mas o Saturno junta a ela sempre teve uma tendência castradora, limitadora, punidora… mas de há alguns anos para cá assumi que não queria um Saturno castrador, mas sim um professor. E agora escuto este professor, mestre dos ciclos do tempo, a dizer-me que é tempo de outra coisa…
Esperem novidades com a próxima Lua Cheia em Sagitário, pois a vida e a criação não cessam até porque os trabalhos da Mulher Xamânica online vão continuar, bem como do Fio Vermelho e a Celebração da Roda do Ano.
A partir de Setembro, depois do meu primeiro Retiro da Lua, irei fluir com as inspirações da Grande Mãe, pois é a Ela que devo, acima de tudo, responder e escutar a partir do meu centro oracular interno.
A página do Facebook do Ninho da Serpente será rebaptizada a partir de um novo nascimento e um novo site irá nascer a partir da nova fase interna – minha e da minha árvore.
Adeus Ninho da Serpente.
Estás liberto… Agora podes ser a água que irá alimentar a transmutadora terra da próxima árvore que nasceu graças a ti. Das cinzas da tua partida nascerá uma nova força.
Em gratidão e honrando os ciclos da vida.
Isabel Maria Angélica
25 de Maio de 2017
Vídeo com imagens do acervo do Ninho da Serpente – Círculos de Mulheres de Isabel Maria Angélica
Música UMA de Layne Redmond
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