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O teu sangue menstrual não é lixo! Celebra-o! por Isabel Maria Angélica

Foto do escritor: Isabel AngélicaIsabel Angélica

Os Círculos de Mulheres são organismos vivos que se nutrem e alimentam uns nos outros. Um fluxo alimentado por séculos e milénios de história, onde invariavelmente as mulheres mais velhas vão passando, à sua maneira, o conhecimento e saber para as que se seguem na linhagem geracional.

Cada vez mais, à medida que as semanas passam, as mulheres que sentam em Círculo sentem este pulsar como um facto que não é possível mais ignorar. Somos células vivas, pulsantes de energia e de sangue e cada vez que ocupamos os nossos lugares nos Círculos de Mulheres estamos a revisitar uma herança ancestral que nos pertence por direito próprio apenas porque escolhemos nascer mulheres.

A minha energia e o meu sangue toca na energia e no sangue das outras Mulheres e todas começamos a vibrar a partir da mesma fonte, mais que não seja, mesmo que não acreditemos em mais nada, é a fonte que nos traz a vida, e que nos faz com que exista sangue a pulsar nos nossos corpos. Há, no entanto, algo mais que nos une – temos ovários e útero. Mesmo que não seja fisicamente, todas as mulheres trazem no seu corpo energético essa informação. E os mistérios dos úteros é este movimento circular que não tem principio nem fim.

A partir da manifestação do útero, segue-se em algum momento da maioria das mulheres, a menstruação. Esse fio vermelho que desce pelas nossas pernas buscando avidamente regressar a Fonte de onde veio. Contudo, para a maioria das meninas que experimentam a sua primeira menstruação (a Menarca) o que ficou gravado nas suas células foi que a menstruação era uma coisa horrível, feia, um castigo… Um dia podemos fazer umas coisas no outro já não.

Desligamos-nos do nosso sangue sem nunca nos termos ligado, o útero e o fluxo menstrual passam a ser temas a ignorar e ainda chegam as vacinas que inibem o fluxo menstrual para ajudar ainda mais à distanciação da mulher quanto aos seus rimos naturais e arcaicos. Contudo, chegamos agora ao momento que falar de sangue menstrual, útero, lua e ciclos é conversa que ouvimos com mais regularidade. As mulheres adormecidas despertam e com elas despertam os poderes escondidos de uma ligação saudável à Fonte de vida e abundância. O que é isto de conectarmos com este órgão reprodutor complexo? Acima de tudo, é navegar em círculos e nos ciclos da nossa espiral da vida e morte.

Para nós, mulheres, o acto circular é inato. A nossa vida é um círculo e um ciclo, as nossas menstruações são um ciclo que criam um círculo que acompanha a Lua no céu. E para isso precisamos, primeiro que tudo, aprender a tirar tempo para menstruarmos em paz e sossego… e podemos começar apenas com UMA HORA em cada ciclo de um mês…

Escolhermos ter tempo para estarmos a menstruar traz mais relaxamento muscular, maior abertura no ponto energético uterino, vaginal, mental e emocional, começamos a estar mais atentas aos sinais do nosso corpo, do que o corpo nos pede e não ficamos tão cansadas. É, acima de tudo, um compromisso de amor próprio! Se nós não fizermos o trabalho de nos respeitarmos a nós, no nosso espaço, ninguém vai fazer esse trabalho por nós e, às vezes, nós caímos na arrogância de que somos imprescindíveis e que a vida lá em casa não acontece, então fazemos o sacrifício de estarmos sempre aptas por mais que isso nos custe.

Respeitar o Círculo interno, respeitar os ciclos, é arrojador, mexe com a rotina em casa, no trabalho e nas dinâmicas pessoais à nossa volta. Mas, acima de tudo, vai mexer com o conceito que somos imprescindíveis e isto é um desapego brutal. Depois percebemos que quando queremos ser imprescindíveis somos, na realidade, insuportáveis dado que estamos a ir contra à natureza e pedido profundo do corpo que pede atenção no acto da libertação para a Fonte do nosso sangue.

A vida acontece se não estivermos um dia inteiro a participar activamente nesta rotina. E este é um facto que nos ensina uma tremenda lição de desapego. E quando nós nos permitimos a esse desapego, as coisas acontecem e nós podemos estar só umas horas connosco mesmas.

O trabalho do respeito do ciclo interno é das coisas mais bonitas que uma mulher consegue fazer por si mesma, é das coisas mais bonitas que as mães podem ensinar às filhas, as tias às sobrinhas, mulheres à outras mulheres. Podemos e devemos descansar, ficar na cama, escolher um local para entregarmos o sangue… podemos criar, pintar, desenhar ou escrever! Podemos cantar, dançar ou apenas meditar… O que fazemos nesses minutos ou horas de descanso e recolhimento é uma forma de darmos atenção ao nosso fluxo de fertilidade, criação, abundância e sustento. E só este acto de observação e de despojo com a Fonte da vida, estamos a nutrir e a alimentar as raízes de uma árvore que nos simboliza a nós.

A menstruação significa que o nosso útero, os nossos ovários, estão a produzir ovos/óvulos e significa que mais tarde quando quiserem ter filhos, aqueles óvulos podem vir a gerar vida, e quando o óvulo não gera vida ele é expulso pelo canal uterino vaginal que depois mais tarde ao fim de 28 dias se transforma em sangue. E esse sangue não é nojento, nem é para deitar no lixo, aquele sangue é resultado de um óvulo que prossegue noutro ritmo, com outra função e aquele sangue tem tanta vida como tinha no momento em que estava pronto para ser fertilizado.

Então o sangue menstrual tem vida, tem células estaminais e estas células geram vida. O sangue que sai pela nossa vagina é vida, não é lixo. Não é para ser desperdiçado num penso ou num tampão que se jogam no lixo! É VIDA!

A mulher já tem o sexto sentido por natureza, já nasce com uma conexão a tudo o que a rodeia, intuitivamente nós sabemos coisas. Quando a mulher está menstruada não há contenção – o sangue desce!, e se imaginarmos a liberdade de podermos deixar que o sangue vá pelas nossas pernas, aquela água vermelha acaba por cair na terra e é absorvido pela e vai para algum sitio, não se desperdiça. Sendo a mulher naturalmente lunar está conectada ao todo quando ela está menstruada – ela está mesmo conectada entre o céu e a terra, os sonhos mais fortes, as emoções mais intensas, tudo se torna mais visceral… Os sonhos que sonhamos quando estamos menstruadas são sinais, são iniciáticos. A mulher menstruada fica completamente conectada e torna-se um oráculo.

Contudo, quanto mais conhecemos esta nossa energia interna mais conseguimos aplicar no nosso dia-a-dia para coisas que nos fazem crescer interiormente e nos trazem abundância a todos os níveis. Há algo que é tão sagrado e que vive dentro de nós e que é nosso.

Há um consciente colectivo que é unido através do sangue, podemos imaginar o sangue como esta rede toda, esta seiva e a terra tem esta seiva em raízes que se tocam e que se expandem pelo Planeta inteiro e que toca em cada uma das mulheres que vive, que se manifesta e que caminha na Terra.

No acto de menstruarmos, seja fisicamente ou de forma simbólica (no caso das mulheres que já não têm essa possibilidade), há um amor profundo por nós mesmas e pela Grande Mãe que vive os seus ciclos tão bem representados em cada uma de nós. No sangue e na partilha comum e consciente desse acto sublime não há ego, não há competição, não há comparações, porque somos todas iguais, somos todas mulheres, a fazer exactamente a mesma coisa – apenas a oferendar o nosso sangue à Mãe e a acolhermos os frutos de estarmos todas interligadas e a gerar um órgão que é vivo e que se alimenta através das águas vermelhas de todas nós. Isto é magia!

Nós, mulheres, estamos esquecidas desta nossa conexão e é por isto que as mulheres têm cada vez mais doenças no útero, grandes depressões, porque as mulheres vivem desconectadas da matéria, da Mãe, do conceito feminino da vida.

O útero é o símbolo da árvore dentro de cada uma de nós.

Como é que podemos nós alimentar a nossa árvore interna? Entreguemos o nosso sangue menstrual à Grande Mãe. Podem um vaso em casa e façam esta oferenda, enfeitem o vaso e transformem-no num altar. E depois podem entregar essa terra num lugar escolhido por vocês no mar ou num local energeticamente protegido. Ou então, se têm um espaço verde fora da vossa casa, um jardim, uma horta, o que for, escolham um lugar onde fazer este espaço para vocês. Façam um buraco no chão, podem colocar umas folhas de cedro, queimar folhas de sálvia e todos os meses, todo o sangue que guardarem, vão entregando no mesmo sítio. Tapem este buraco com uma pedra grande e criem um altar.

Quando se estabelece uma conexão a um lugar assim, estamos a alimentar o cordão umbilical que se alimenta daquela placenta que nos liga ao Útero da Grande Mãe.

Recolham TODO o vosso sangue menstrual. Não podemos deitar para o lixo ou para a sanita! É vida! É a nossa fertilidade, força e abundância! Podemos colocar os pensos ou os tampões em água, de molho, e aproveitamos essa água com o nosso sangue, a nossa abundância, e entregamos no local sagrado. Mexer nas águas vermelhas, colocá-las numa garrafa de vidro, bem bonita, consagrar os momentos, os fluxos e os ciclos é uma forma de maior contacto interno e, ao mesmo tempo, de desconstrução dos paradigmas anteriores que a educação e a sociedade no impingem de quem o sangue menstrual é lixo, é nojento e só causa transtorno… Nada disso! Pode e deve ser encarado como uma tintura através da qual pintamos as telas brancas de infinitas possibilidades da nossa vida.

Deitar os pensos para o lixo é tratar a nossa abundância como lixo!

As mulheres que já não são menstruadas podem todos os meses escolher um dia no mês para fazer o ritual de entrega à Mãe. Arranjando para tal sumo de frutos vermelhos ou vinho tinto, sempre simbólico do vermelho da vida. Honrando assim o sangue menstrual que já tiveram, a menstruação que já tiveram e honrando os vossos ciclos e as vossas luas. As mulheres na menopausa ou que por algum motivo tenham feito a remoção do útero continuam a ser cíclicas, a estarem afectadas pela Lua e continuam a estar ligadas a este rede eterna de raízes vermelhas.

Honrar as nossas águas vermelhas é abrir um caminho constante de equilíbrio interno que vai enchendo o nosso cálice interno de forma a substituir este vazio e saudade que sentimos com tanta frequência.

Honrar as nossas águas vermelhas é abrir e expandir consciência para um trabalho intenso mas cheio de frutos e bênçãos gerados e nutridos a partir da nossa intimidade com a Deusa, a Grande Mãe.

Há muitas luas que pratico este ritual, honrando as minhas águas que oferendo à Grande Mãe. Tem sido uma experiência que me tem permitido alcançar muita cura, consciência e transformação internas. Através destas e de outras experiências, entendo cada vez melhor a emoção de ser uma mulher intuitiva mas de presença terrena. Os poderes internos ampliam-se, mas com isso também vem uma responsabilidade maior na sendo do amor próprio e poder pessoal. Contudo, já não consigo conceber a possibilidade de me desfazer do meu sangue de forma leviana e, confesso, já fico chocada quando encontros pensos higiénicos de alguma mulher num lixo qualquer.

Celebrar o nosso sangue da vida, as nossas águas vermelhas, é celebrar a nossa sabedoria e fogos internos que a Grande Mãe tão bem representa através dos seus animais manifestados – a serpente e o dragão.

Mais e mais tenho como foco espalhar esta mensagem para que as meninas, mulheres e anciãs cuidem dos seus sangues e assim abram caminho à expansão interna para um crescimento a todos os níveis. E é algo que eu experimento e sei bem o que me tem trazido. Não me canso de reforçar este ponto, pois o caminho de saber feito é a única lição que nós mulheres conseguimos validar.

Estes círculos são eternos e movimentam-se de forma cada vez mais intensa. As energias estão a acelerar e a Grande Mãe pede-nos consciência e responsabilidade ao lidarmos com a fonte da vida em cada uma de nós e em todas as mulheres. Ensinar tudo isto umas às outras e aos nossos homens será a forma de fazer florescer o amor, a paz e o respeito no Planeta Terra. Disso não tenho dúvida alguma.

A ilustrar este texto, senti que deveria trazer um desenho nascido da experiência pessoal de uma irmã que o desenhou após a sua primeira devolução do seu sangue menstrual à Mãe. A emoção e a experiência vivida e vívida são bem representadas neste desenho celular. Grata Sónia Moutinho pelo teu coração de mulher ao serviço de ti mesma e de todas nós.

Espalhem a palavra. Aprendam a celebrar as vossas águas vermelhas. Criem novos paradigmas a partir da vossa experiência pessoal e depois sentaremos todas em Círculo a partilhar os milagres das nossas vidas! 🙂

Aho Grande Espírito! Metakiaze!

~ Isabel Maria Angélica, 17 de Março de 2016

(Este texto pode e deve ser partilhado ou traduzido desde que honres sempre a fonte @Isabel Maria Angélica | No Ninho da Serpente – Círculos de Mulheres de Terras de Lyz)

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