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Foto do escritorIsabel Angélica

A VIAGEM À CAVERNA UTERINA por Ximena Avila

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Nas profundezas de cada mulher há uma caverna que guarda os segredos das suas memórias uterinas. Nas suas paredes de rocha, existem hieróglifos que relatam tudo o que ela precisa saber sobre si mesma. Um saber tão profundo e extenso como as estrelas do céu, pelo que ela irá necessitar de muitas vidas para revelar uma parte importante dela. Cada mulher é um cântaro de histórias que guarda a verdade sobre a humanidade e a origem do Universo. Mas o que cada mulher não sabe é que a sua caverna uterina conecta-se com as cavernas das suas ancestrais e também com os das demais mulheres. Partilhamos a memória da humanidade nos nossos úteros. Existem marcos que ocorreram ao longo do tempo e que estão plasmados no ventre de cada mulher, assim quando cada uma se cura, cura a outra e a humanidade.

A minha viagem pessoal à caverna uterina foi dolorosa e maravilhosa também, merecendo uma transcendência única na minha vida, que é o que desejo com profundo amor partilhar convosco.

A primeira vez que entrei numa Cerimónia de Temazcal não fiz mais do que chorar. Não conseguia reconhecer de onde vinha tanta tristeza e era o mesmo que acontecia durante as minhas menstruações, pois durante esta viagem existia em mim uma dor inexplicável que o meu corpo e mente não conseguiam alcançar compreensão nem processar.

Mais tarde compreendi que ir a uma tenda de suor, assim como a menstruação, simbolizam o regresso ao útero da Mãe e ali curas aquilo que precisas no momento da tua vida. Esta entrada ao útero dá-nos a consciência de tudo o que estava sem vida dentro dele e ali estão os cemitérios ancestrais habitados por sonhos frustrados, os desamores, os não nascidos, os exilados da família, os esquecidos e os não honrados.

O mesmo acontece durante cada menstruação – cada uma de nós empreende uma viagem solitária à sua própria caverna uterina, essa que leva escritas as nossas histórias de alma e também esse poder criador e a energia sexual das nossas ancestras. Essa força que se foi acumulando à medida que cada mulher do fio vermelho foi parindo e foi capaz de transmitir a vida de geração em geração de forma incansável e ininterrupta até permitir que nós possamos estar aqui e agora. Contudo, nesta viagem deve-se honrar todas as mulheres da nossa árvore, sem esquecer nenhuma delas, tenha sido mãe ou não, tenha sido feliz ou triste, tenha sido boa ou má. Apenas com o facto de recordar uma ancestra e honrar tanto a sua existência como a sua morte, há carga que se soltam e caminhos que se abrem na nossa vida.

Desde o princípio dos tempos, mulheres e homens compreenderam que a menstruação da mulher a conduzia a um estado de transe que apenas elas eram capazes de experimentar. Assim, o seu regresso à caverna uterina ocorria cada mês, lua a lua, e nessa viagem rezavam por toda a humanidade. Foi assim que as xamãs começaram a alcançar este estado de transe com a viagem de tambor e plantas de poder. Com o transe, ingressavam a caverna uterina das suas linhagens, alcançando o mesmo poder sanador que obtinham as mulheres durante o sangramento.

Por outro lado, o tratamento com o Ovo de Obsidiana foi um veículo até à caverna uterina, sendo um toque final na minha viagem pessoal. Através dos sonhos e meditações foram-se revelados segredos transcendentais da minha árvore, o que me permitiu encontrar as raízes da imensa tristeza que habitava o meu espaço uterino. Contudo, aí compreendi que uma parte da cura é encontrar uma resposta e logo surge a tomada de consciência de mudar crenças e hábitos de vida que é o mais difícil. Quando encontras as raízes de uma doença apenas estás a metade do caminho.

A obsidiana também me permitiu reconhecer-me numa linguagem simbólica profunda. Aprende que cada vez que sonhava com água, representava na minha psique o estado emocional da minha caverna uterina, manifestado pelo estado energético do meu segundo chakra. Aprendi assim que as águas turvas eram sinal que a minha menstruação iria chegar intensa, com dores ou com coágulos. Por outro lado, as águas cristalinas e lívidas em que muitas vezes me via a flutuar, indicavam uma menstruação que iria chegar suave e amorosa. A água é um espelho por excelência e, apareça no interior ou no exterior, sempre nos mostra a nossa alma.

Convido-te que durante cada menstruação observes com profunda atenção quais são os sentimentos que mais te invadem. Fecha os teus olhos e abre-te a conhecer as histórias da linhagem que existem atrás de cada sensação. Recorda que cada momento de sangramento é uma viagem profunda à caverna e isto te permitirá compreender com amor e paz a tua dor física e emocional.

Recorda-te que não estás só, não és a única. És um cântaro de histórias universais, escreve essas histórias e comparte-as com o mundo.

Espero que de alguma forma, a tua viagem à caverna uterina apenas te traga cura.

Abraço-te.

Ximena

Se vais copiar este artigo, peço-te para citares a fonte http://www.cantarosagrado.cl Texto original – http://www.cantarosagrado.cl/2016/03/23/el-viaje-a-la-caverna-uterina/ Traduzido por Isabel Maria Angélica | No Ninho da Serpente | Círculos de Mulheres, Março de 2016

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